segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Dilma Rousseff decidiu dar um mau exemplo

ELIO GASPARI

Em vez de cortar o sobrepreço de sua aceleração acadêmica, a ministra preferiu a linha acrobática

A MINISTRA DILMA Rousseff e seu comissariado de informações ainda não desfizeram a encrenca do dado falso de seu currículo. Há um mês, o repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que ela não tinha mestrado pela Universidade de Campinas. O banco de dados Lattes, que armazena os currículos de todos os acadêmicos brasileiros, informava que ela obtivera o título com uma dissertação intitulada "Modelo Energético do Estado do Rio Grande do Sul". Essa titulação estava listada também nas páginas da Casa Civil e da Petrobras, cujo Conselho de Administração ela preside. Entre seus méritos universitários havia ainda o de "doutoranda" da Unicamp em economia monetária e financeira.

Exposto o vexame, sucederam-se explicações: ela frequentara os dois cursos, mas não apresentara as devidas dissertações. Pena, porque são requisito essencial para a obtenção dos títulos. A condição de doutorando só existe enquanto a pessoa faz o curso. Dilma Rousseff deixou de ser doutoranda em 2000, quando sua matrícula foi cancelada.

A ministra eximiu-se de responsabilidade pelo texto do Lattes e o erro mostrado no currículo da Casa Civil chegou a ser atribuído a algum servidor desavisado. Tudo bem, Dilma Rousseff seria a única pessoa que jamais leu o próprio currículo.

O Planalto pode botar o que quiser nas biografias dos companheiros, mas a Instrução 367 da CVM determina que as assembleias gerais das empresas de capital aberto, como a Petrobras, coletem os currículos de seus conselheiros e define como "infração de natureza grave" a prestação de "informações ou esclarecimentos falsos". Não se pode ver no mestrado inexistente da ministra um risco para os acionistas da empresa. Nesse aspecto, está mais para insignificância.
O relatório que a Petrobras preparou em 2007 para a Security Exchange Commission, a CVM americana, incorporou a condição de "doutoranda" da ministra. Como essa expressão não existe no vocabulário inglês, algum tradutor honesto informou que "atualmente ela está buscando um grau de doutora em economia monetária e financeira na Unicamp". A mágica virou comédia.
Atualmente a Petrobras exibe uma nova versão do currículo. Informa que ela "foi aluna de mestrado e doutorado em Ciências Econômicas pela Unicamp, onde concluiu os respectivos créditos". Blablablá. Foi aluna buscando um título que não obteve.

A ministra Rousseff é candidata à Presidência da República, pessoa de quem se esperam exemplos de conduta. Admitindo-se que nada teve a ver com os currículos maquiados e astuciosos, resulta que desprezou o caminho mais simples: bastaria jogar detergente na titulação, esquecendo a Unicamp e dispensando acrobacias. Ela continuaria economista diplomada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que não é pouca coisa.

Fonte: Folha de S. Paulo

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