quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Gigatendências, parte I – inovação e observação - Por LULI RADFAHRER

Enviado para você por Lucas Santos através do Google Reader:

via LULI RADFAHRER de Radfahrer em 26/08/09

Tem coisa que a gente não pode deixar passar. “Mad Avenue Blues“, paródia brilhante do folk-fanho-chiclete “American Pie“, de 1971, é uma delas. Cheia de jargões típicos do mercadinho de propaganda americano – alguns difíceis de traduzir, alguns intraduzíveis – resume muito bem o cenário aterrorizante para uma indústria que, feito zumbi mal-resolvido, se recusa a aceitar que morreu.

Para quem está habituado com a revolução proporcionada pelas mídias sociais, a paródia não tem nada de novo. Ela, aliás, é quase tão óbvia quanto a importância da reciclagem e dos carros elétricos. Mas chega a ser chocante ao mostrar que nós, nascidos e criados no século passado, achávamos normal o enorme desperdício de tempo e recursos.

Naquela época existiam “publicitários”, profissionais cuja única função era tornar a mensagem de uma marca pública. Categoria em vias de extinção, ela era caracterizada por um ego imenso, só superado pela influência que tinha junto aos “formadores de opinião” – figurinhas carentes que usurpavam o palco e o jornalismo ao usar suas imagens públicas, não necessariamente verdadeiras, para referendar algum produto ou serviço. Acredito que o neto que um dia terei me perguntará porque não blogávamos ou tuitávamos ou facebucávamos ou orcutávamos ou… OK, você entendeu.

BrysonEste post não foi escrito para chicotear cavalo morto, mas para mostrar como é difícil ver a inovação se você está do lado de dentro de uma indústria estabelecida. “Não se mexe em time que está ganhando”, diz a sabedoria(?) popular, embora a história da ciência mostre exatamente o contrário: as descobertas costumam ser revolucionárias a ponto de questionar o mundo como o conhecíamos e perceber que as coisas não são tão simples assim. Foi o que aconteceu quando se descobriu a América, as placas tectônicas, as bactérias, a radioatividade e as leis do espaço-tempo propostas por aquele burocrata que, apesar de brilhante, nunca entendeu direito a Mecânica Quântica nem aceitou que ela pudesse ser verdadeira, a ponto de desperdiçar o fim de sua carreira para tentar provar que ela estava errada.

Não há dúvidas que uma mente capaz de propor, sem citar praticamente ninguém nem conduzir experimentos, que o que conhecíamos por universo estava errado e que espaço e tempo estavam intimamente relacionados (entre outras coisinhas) é brilhante. E, no entanto, mesmo um Einstein chega a um momento da vida em que se apega às conquistas estabelecidas, recusa o novo, se cristaliza e afunda. É da natureza humana.

Na velocidade com que as coisas mudam, não podemos nos dar mais a tais luxos. É preciso estar sempre alerta e preparado para mudar o tempo todo. A única forma para isso é evitar qualquer forma de apego a idéias estabelecidas e estar sempre preparado para examinar o novo. Veja bem, eu disse EXAMINAR, não aceitar. Nem sempre a inovação é boa, o mundo seria melhor se alguns inventores nunca tivessem exercido a profissão. Na dúvida, lembre-se do Bug do Milênio ou do SecondLife.

Por falar neste último, vamos dar uma olhadinha em mais um vídeo:

Esses italianos fizeram uns logotipos lindos, não?

Hummm… algo não cheira bem. Todos sabem que o Vida de Segunda não deu exatamente certo e que essas projeções são um bocado estranhas. O resultado é que o vídeo ficou um pouco velho para quem tinha aspirações futurólogas. A ponto deste aqui, ainda mais antigo, parecer mais real:

Mesmo assim ele ainda dá umas mancadas bem básicas, como realçar a importância do Friendster e ignorar boa parte das redes sociais. Em um dos vídeos, Google e Amazon são concorrentes. No outro, juntam forças. Talvez falte um para dizer que se aniquilarão mutuamente. Ninguém fala da Apple. Mas não por isso, deixemos a Microsoft falar:

O vídeo mostra iPhones em paredes, vidros, mesas, cartões.
Será que o futuro terá tanto texto? Eu duvido.

Não é fácil prever o futuro. Afinal de contas, as mudanças recentes desta virada de milênio acumularam um conjunto tão grande de novas tecnologias a ponto que hoje dá para olhar para alguém de 28 anos com a mesma admiração com que antigamente se olhava para pessoas centenárias e pensar “nossa, você deve ter visto tanta coisa na vida…” – mas isso não é desculpa para a preguiça intelectual que nos leva a acreditar que “chegamos lá” ou que os próximos anos trarão uma consolidação das tecnologias, “mais e melhor do mesmo”.

Muito pelo contrário. Uma forma fácil de se considerar o futuro é usar uma frase que pensei há alguns anos e que repito sempre:

“o futuro é igual ao presente,
tirado dele as coisas que não fazem sentido”

Cartórios, trânsito, mídia de massa, publicidade irritante que interrompe a experiência, guardar de cabeça números de telefone, milhões de senhas e endereços de e-mail serão coisas que devem desaparecer nos próximos anos. E o devem fazer discretamente, como aconteceu com orelhões, máquinas de escrever, cartões perfurados, máquinas de fax e aparelhos VHS.

Mas para isso é preciso aprender a examinar as informações que nos chegam. O vídeo a seguir, muito comentado, traz um erro crucial de raciocínio:

Mas eu só o contarei no próximo post. Enquanto isso, proponho um segundo desafio: diga-me o que há de “estranho” nesse vídeo xarope de auto-ajuda (fora, é claro, o fato de ele ser um vídeo xarope de auto-ajuda):

Algumas coisas para ajudar você a desvendar o que está estranho:

  1. O texto deste vídeo não foi feito pela DM9DDB nem tinha a intenção de ser um roteiro de vídeo;
  2. O texto correu a Internet, ainda por e-mail, em uma época ingênua que acreditávamos em “Blair Witch Project“;
  3. A autoria do texto rapidamente foi perdida, outros nomes apareceram como possíveis autores, de Kurt Vonnegut até o bem menos glorioso Nisão Guanáis – todos o teriam dito em um discurso de formatura, mas não há registro de quem se lembre de ter ouvido um discurso tão memorável, ao contrário daquele feito pelo Steve Jobs;
  4. O roteiro foi feito primeiro, a música veio depois – ela faz parte da trilha sonora de “Romeu+Julieta“;
  5. A história lembra bem a deste vídeo, que eu conto neste artigo. Curiosamente, o tema também é inovação.

Uma frase, no entanto, chama a atenção: “os verdadeiros problemas da sua vida tenderão a ser coisas que nunca passaram pela sua cabeça. O tipo que cruza a sua frente às 4 da tarde de uma terça-feira ociosa”. Me arrisco a dizer que as verdadeiras inovações seguem o mesmo rumo.

Mas isso é assunto para um próximo post.


Coisas que você pode fazer a partir daqui:

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